O nome que dei ao texto de hoje não é metafórico.
Eu literalmente levei uma cuspida na cara.
No meio da cara.
Eu estava saindo de uma loja, a qual adentrei com um propósito absolutamente fútil, quando me deparei com um mendigo que sempre ronda aquela área e pronto. Ele não disse nada, eu não disse nada, em um milésimo de segundos deixei a calçada aonde estava, agora com a cara cuspida.
Com as pessoas ao redor me olhando, eu resmunguei alguma coisa e limpei meu rosto com a manga da camisa. Fui-me.
Por incrível que pareça aquele cuspe não me provocou nojo. Ou raiva.
Num primeiro momento me senti extremamente constrangida pois o cuspe na cara é um típico ato de humilhação. Pois bem. Alguns minutos depois, fiquei constrangida novamente: o cuspe me fez refletir a minha fútil vida. A quantia de tempo que eu gasto pensando em coisas nada essenciais para a minha existência. Ou então o quanto eu deixo de valorizar aquilo que realmente me é essencial. Ou quantas (tantas) vezes eu fui mesquinha e fiz vista grossa a mendigos vivos-mortos e a forma como eles "vivem" esse mesmo mundo que eu.
(Isso tudo pode parecer muito clichê, mas sinceramente eu cansei de subestimar clichês. Se você que me lê aí da sua telinha faz parte do clube "não tolero clichês" faça o favor a si mesmo de despedir-se deste blog. Aqui o que não é tolerado são os clichês dos não-clichês. E eu disse muito "clichês" nesse parenteses).
Perto dos questionamentos que o cuspe me levou a ter, senti a vontade de ser mais humilhada. Um cuspe foi pouco pra mim. Quem sabe eu mereça mesmo um bom soco na cara pra deixar roxo esse meu olho que eu insisto em pintar de preto nos sábados.
O cuspe me fez nú.
Porque não sei de onde me veio a idéia de que sou mais merecedora do que os mendigos, ou que sou menos mendiga que eles, mas sei que ela está bem instalada na minha cabeça, mais parece chiclete com cabelo, um emaranhado que para ser desfeito, precisa ser cortado. Então eu agarrei a tesoura.
A palavra humilhação é semelhante à palavra humildade. Não sei nada de origens de palavras, e por hoje não quero saber. Quero apenas dizer que a humilhação que sofri (mais por mim mesma que por aquele homem) me levou a repensar o mal uso que andava fazendo da minha humildade.
Tenho pensado nela. Quero ser humilde, muito mais humilde do que sou.
O querer é a tesoura.
Quando der o primeiro corte, mesmo que fique torto, venho lhes contar.
Beijos.
Flavia Bellesia
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