Fui a uma festa há alguns dias atrás.
Festas sempre me dão um tipo estranho de tensão. Antes de aceitar
ir, fico preocupada com as obrigações sociais de uma festa, as quais eu nunca
quero cumprir. Como ter que sorrir forçado dez vezes seguidas pra uma câmera
até que todo mundo se ache suficientemente bonito; ter que ser simpático e
agradável quando por dentro você se sente um vinagre velho e azedo; compactuar
com falas e ações apenas para poder sentir que há um laço entre você e aqueles outros,
do outro lado do balcão.
É por conta do discurso feito acima que eu sou reconhecida como a pessoa não mais sociável do mundo. Pois que me desculpe o mundo, mas agradeço até hoje por esse meu reconhecimento antissociável (sim, porque ser antissocial é diferente). Nada me deu mais liberdade até hoje.
É por conta do discurso feito acima que eu sou reconhecida como a pessoa não mais sociável do mundo. Pois que me desculpe o mundo, mas agradeço até hoje por esse meu reconhecimento antissociável (sim, porque ser antissocial é diferente). Nada me deu mais liberdade até hoje.
Não que eu não me doe a alguns desses cumprimentos sociais,
a questão é que sei me retirar deles, e definitivamente me retiro. E amo me
retirar, porque minha retirada demarca e expõe o meu limite. E ter expostos
seus limites, ao contrário do que costumamos pensar, é algo muito libertador.
Acontece que ao longo da minha vida percebi que toda a
aparição é a continuação da montagem de uma imagem. Muitas vezes, as aparições
das pessoas fazem nada que não confirmar a velha imagem. Minhas retiradas fizeram fixar em mim algumas
taxações, como “rebelde” ou “caseira”. Meu deus, como eu odeio essa palavra:
caseira. Nada é mais distante de mim que isso. Na verdade, caseiro pra mim é um
cara que ganha uma grana pra atender uma casa, e obrigada, até mais!
A realidade é que minha bendita “antissociávelização” fez de
mim um ser incompreendido. Mas como eu sempre digo, a cada festa uma nova
oportunidade de se refazer a imagem feita. Então lá estava eu em uma festa que
eu não estava curtindo muito. Eu percebi que eu queria que as pessoas achassem
que eu estava curtindo muito, mas eu não estava curtindo muito. E, dãh, pode
haver um pensamento mais ilógico que esse? Logo eu que sempre acreditei que um
sorriso falso não serve nem pra ganhar um chiclete?
Bom, sim, logo eu.
Tendo percebido isso, perguntei a mim mesma o que eu queria.
E a primeira resposta veio muito rápido: “quero ficar em um lugar quente,
preciso me aquecer”. Por isso, fui a cozinha e me sentei à mesa. Assim que
sentei me senti melhor. Resolvi me servir de um copo d’água e ali fiquei. A
sensação de estar parada em meio ao movimento foi muito boa para mim. Parecia
que eu era a dona da casa recebendo toda aquela gente.
As pessoas entravam e saiam da cozinha para usar o banheiro
e não demorou muito para que começassem a estranhar a minha escolha de ficar
sozinha bebendo agua na cozinha. Alguns paravam para conversar comigo, e
sentavam-se também. Todos me perguntavam se eu estava me sentindo bem.
Nos poucos instantes após essa minha escolha, eu tive a
oportunidade de me sentir feliz e presente no momento. Pude conversar com
várias pessoas, e (caramba) fiz novos amigos.
Minha imagem estava refeita. Nada de rebeldia ou "caseirismo". Apenas uma essência sendo verdadeira e, à sua maneira, atraindo algumas pessoas para a mesa.
Ser sincero consigo mesmo não tem preço. E cada vez mais me convenço de que é isto o que realmente buscamos: voltar a nossa própria essência, sentar na nossa mesa. Foi para isso que a festa na cozinha serviu. Uma conversa sincera é a concretização de um verdadeiro encontro, finalidade de qualquer festa, seja na cozinha ou dentro do seu coração.
Todo o verdadeiro encontro nos devolve para nós mesmos.
Não buscamos por uma boca seca e dor de cabeça na manhã seguinte, mas sim pelo abraço reconfortante que se pode ter na socialização.
Vamos tentar não fugir mais da mesa, certo?
Vamos tentar não fugir mais da mesa, certo?
Agradeço,
Flavia Bellesia.
Fláaaaaaa, coisa linda! Adorei o começo do texto e ri demais com "Na verdade, caseiro pra mim é um cara que ganha uma grana pra atender uma casa, e obrigada, até mais!"
ResponderExcluirobrigada hahahahaa
vou voltar a leeeer!
Obrigadaaa :) que bom que gostou, volte sempre que quiser!
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