"Havia em Keo uma inocência quase comovente de se ver. Na verdade, a família inteira parecia a coisa mais pura que eu já encontrara. Apesar da televisão, da geladeira e do ventilador, continuavam intocados pela modernidade, ou pelo menos intocados pela malícia sofisticada da modernidade. Eis aqui apenas alguns elementos que faltaram na conversa com Keo e sua família: ironia, cinismo, sarcasmo e presunção."
- Eliabeth Gilbert, Comprometida.
Gosto muito desse trecho porque ele me leva à uma saudade que tenho: tenho saudade da falta dessa malícia sofisticada até em mim mesma, e me lembro de já ter me divertido muito -e mais- sem ela. Lembro-me de ter tido uma grande amiga, talvez a única verdadeira na minha história. Nossa amizade era muito respeitosa, naturalmente respeitosa. Ríamos muito, mas sempre uma com a outra. Não tínhamos malícia, raramente tirávamos sarro para rir uma da outra, porque sabíamos o quanto aquilo podia ser desagradável. Esse é um costume tão raro. Rir com, e não rir de. E rir com a pessoa, mesmo que seja sobre a própria pessoa, é tão mais satisfatório.
Sao as relações nítidas e respeitosas, sem a "malícia sofisticada da modernidade", que verdadeiramente constroem pontes entre pessoas. O sarcasmo e a ironia são frutos de uma presunção que é triste, porque só pode ser sozinha. É um abuso do outro para um agrado seu, e talvez só aumente nossa prepotência em acreditarmos que só podemos estar no ápice em todo quesito da vida, que sair por cima é o objetivo.
Nao...
Objetivo mesmo é aprender a aceitar ficar por baixo, digerindo fracasso e frustração.
Objetivo mesmo é ter ao seu lado pessoas que lhe devolvam, de alguma forma, a relação humana que é verdadeiramente valiosa.
* Atenção: não estou aqui dizendo que não podemos ser brincalhões ou irônicos mas sim que estas não deveriam ser características tao implantadas na nossa forma de relacionarmos com os outros. ;) sim?
Quero ver mais Keos e menos caos por aí. :)
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