domingo, 24 de março de 2013

Domingo

As árvores parecem gostar de frio e de domingo. Frio e domingo parecem se gostar. Todo o campo fica mais viçoso, mais bonito. Escurece o verde e resta aquilo que não restou. Eu estou tão acostumada a esse tristeza fina... Cobre-me como um veu do anoitecer, e tudo em mim se contrasta: meu coração ainda ferve, ainda doce. Eu sinto o calor do sol que há em mim, mesmo quando - ainda mais quando! - o vento vem soprar seu gelo, gotas de chuva me caem sobre o cabelo.
Despejo sobre minha casa a minha reza.
Despejo sobre ela, pois é nela onde eu vivo a profundeza do que sou.
Estou pedindo pra Deus manter o meu sagrado vivo. Viro oradora fervorosa, se for isso o que preciso!
Mas eu sinto Deus... Conversando comigo numa língua que desaprendi.
Deus gosta de mim, me perdoa e me acompanha. Ele conhece a criança que eu sou.
E no domingo, sabe que vou dançar a sua dança e cantar todo seu canto com clamor. Eu vou encher os meus pés de alegria! Passa vento, passa frio, e também passa a guria, me rodopia, me atira um beijo, me enche de flor - eu agradeço, ela se despede. Volto a janela. Volto aos campos. Volto do verde escuro onde eu nasci. Eu sempre fui isso, isso sempre fui eu. Estarei aqui todo o domingo. Esquecerei tudo comigo.
Morri e renasci, mas é aqui onde termino.


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