sábado, 28 de julho de 2012

Sobre a solidão, para F.S.

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"Sobe pelo corpo o tremor do castelo que desmorona".
"Sinto meu perfume enquanto o vento do tempo sopra esse bafo de mudança".
"A quadrilha dos desafortunados só começa quando o poeta recita a dor de um adeus".
"Não quero morrer com certezas".
"Entendo de culpas. Mas é negra a solidão de quem escreve".

Fernanda Young foi pra mim uma boa descoberta da "modernidade".
Muitos a odeiam, mas eu acredito que as pessoas adoram polemizar.
Pra mim, ela é profunda mesmo quando esdrúxula.
Seus textos calam em mim o que não pôde ser dito. Despem-me de palavras.
É pra isso que outros textos e autores me servem: falar por mim, 
e dessa forma diminuir a minha solidão, até por me aproximar mais de mim mesma.


Que o vídeo possa escutar-lhes sem falas,
curar-lhes sem remédios, e também, é claro, diminuir-lhes a solidão,
sentimento tão necessário mas que precisa ser, de quando em quando, aliviado.


Flavia.






quinta-feira, 26 de julho de 2012

Cuspiram-me na cara.

O nome que dei ao texto de hoje não é metafórico.
Eu literalmente levei uma cuspida na cara.
No meio da cara.
Eu estava saindo de uma loja, a qual adentrei com um propósito absolutamente fútil, quando me deparei com um mendigo que sempre ronda aquela área e pronto. Ele não disse nada, eu não disse nada, em um milésimo de segundos deixei a calçada aonde estava, agora com a cara cuspida.
Com as pessoas ao redor me olhando, eu resmunguei alguma coisa e limpei meu rosto com a manga da camisa. Fui-me.
Por incrível que pareça aquele cuspe não me provocou nojo. Ou raiva.
Num primeiro momento me senti extremamente constrangida pois o cuspe na cara é um típico ato de humilhação. Pois bem. Alguns minutos depois, fiquei constrangida novamente: o cuspe me fez refletir a minha fútil vida. A quantia de tempo que eu gasto pensando em coisas nada essenciais para a minha existência. Ou então o quanto eu deixo de valorizar aquilo que realmente me é essencial. Ou quantas (tantas) vezes eu fui mesquinha e fiz vista grossa a mendigos vivos-mortos e a forma como eles "vivem" esse mesmo mundo que eu.
(Isso tudo pode parecer muito clichê, mas sinceramente eu cansei de subestimar clichês. Se você que me lê aí da sua telinha faz parte do clube "não tolero clichês" faça o favor a si mesmo de despedir-se deste blog. Aqui o que não é tolerado são os clichês dos não-clichês. E eu disse muito "clichês" nesse parenteses).
Perto dos questionamentos que o cuspe me levou a ter, senti a vontade de ser mais humilhada. Um cuspe foi pouco pra mim. Quem sabe eu mereça mesmo um bom soco na cara pra deixar roxo esse meu olho que eu insisto em pintar de preto nos sábados.
O cuspe me fez nú.
Porque não sei de onde me veio a idéia de que sou mais merecedora do que os mendigos, ou que sou menos mendiga que eles, mas sei que ela está bem instalada na minha cabeça, mais parece chiclete com cabelo, um emaranhado que para ser desfeito, precisa ser cortado. Então eu agarrei a tesoura.
A palavra humilhação é semelhante à palavra humildade. Não sei nada de origens de palavras, e por hoje não quero saber. Quero apenas dizer que a humilhação que sofri (mais por mim mesma que por aquele homem) me levou a repensar o mal uso que andava fazendo da minha humildade.
Tenho pensado nela. Quero ser humilde, muito mais humilde do que sou.
O querer é a tesoura.
Quando der o primeiro corte, mesmo que fique torto, venho lhes contar.
Beijos.

Flavia Bellesia



segunda-feira, 23 de julho de 2012

Poeminha...



Muito boa noite! :)
Gente, voltei toda cheia da coragem pra mostrar um poeminha meu, retirado dos fundos dos cadernos...
Sim, claro, afinal de contas eu não sei vocês, mas eu só escrevo em cadernos, de preferencia bem grandes, com paginas recicladas e caneta fina de tinta preta...
Ok.
Hahaha!
Eu sei que sou fresca, obrigada.
Enfim,


Comecei a escrever músicas, na verdade, com uns 12 anos. nemteconto.
Aos 14, músicas evoluiram para poemas, e assim ficou até agora, com algumas mudanças, é claro.

O poema que lhes trago hoje fala da perda ou da ausência do lar.
Porque lar não é um lugar, é um sentimento.
Então, aqui está (espero que se identifiquem):



"Eu queria poder chegar em casa
Levando a minha cesta de doces
Para meus amores, que me aguardam
E ser recebida com um sorriso de finalmente
Eu gostaria que este inverno fosse mais frio
Apenas se tivesse um cobertor manso de agrados
Apenas se eu pudesse em casa chegar
E com minha alma doída, alguns poder alegrar
Gostaria de fazer os enfeites a mão
Em companhia deles... Mas eles, quem são?
Não sei aonde está minha casa
E por isso estou em lugar vão.
Sinto falta
Da falta de pressa
Ao encostar minha cabeça no chão...
Sinto pressa
De achar minha casa
De achar o seu olhar no meu
A única bençao que eu jamais tive
Foi a calma de ser só."

Flavia Bellesia.



domingo, 15 de julho de 2012

Ostra feliz....


"Ostra feliz não faz perola".

Começo o post de hoje com essa reflexão, de um dos meus escritores favoritos, Rubem Alves.

Disserto hoje sobre porque (e não pra que) eu criei esse blog. Pois é. Fui caminhar e acabei pensando nisso. Caminhar é sempre arriscado, algumas reflexões duram mesmo 1 hora, e eu, que estou sempre na tentativa de "aquietar" essa vizinha faladeira que é minha mente, acabo sempre por ceder ao blablabla, ficamos horas conversando na varanda.

Uma vergonha.

Não posso dizer que não gosto. Gosto, sim, quando a reflexão que tenho ilumina alguma parte de mim mesma pra mim, e assim transforma meu olhar, meu feeling, interior... =)

E hoje foi assim pra mim. Como uma mini-lamparina, meus pensamentos foram caminhar comigo atrás desta pergunta: Porque, sinceramente, criei esse blog?

E descobri que o blog é a minha perola, produto do grão de areia que roçava incomodando meu interior.
O grão de areia me alertava, dizia-me que eu havia perdido, quase que por inteiro, minha habilidade de ver, falar, escrever, pensar com simplicidade. E de ouvir meus sentimentos. 
A vida, sem essa habilidade, estava ficando difícil, complexa demais, e eu me perdia pelos labirintos que criava na total escuridão. Estava quase tornando-se um hábito pra mim perder-me em mim mesma.

Então, cá estou, leitores. 
Convido-lhes a acender suas lamparinas, e ouvir o coração de vocês, 
não só hoje, mas todo dia. 
É tarefa diária perceber o que nós estamos falando, para que possamos enfim falar.
Isso é cuidar de si mesmo, proteger nossa ostra para que os grãos adentrem apenas se necessário.

Como diz o meu poeta favorito:

"Passar a limpo a Matéria  
Repor no seu lugar as cousas que os homens desarrumaram  
Por não perceberem para que serviam 
Endireitar, como uma boa dona de casa da Realidade, 
As cortinas nas janelas da Sensação
E os capachos às portas da Percepção 
Varrer os quartos da observação  
E limpar o pó das ideias simples... 
Eis a minha vida, verso a verso."

- Fernando Pessoa.

Um otimo domingo a todos!

Flavia.








domingo, 8 de julho de 2012

Se eu quiser falar com Deus...



Se eu quiser falar com DeusTenho que ficar a sósTenho que apagar a luzTenho que calar a voz...Tenho que encontrar a pazTenho que folgar os nósDos sapatos, da gravataDos desejos, dos receiosTenho que esquecer a dataTenho que perder a contaTenho que ter mãos vaziasTer a alma e o corpo nus...Se eu quiser falar com DeusTenho que aceitar a dorTenho que comer o pãoQue o diabo amassouTenho que virar um cãoTenho que lamber o chãoDos palácios, dos castelosSuntuosos do meu sonhoTenho que me ver tristonhoTenho que me achar medonhoE apesar de um mal tamanhoAlegrar meu coração...Se eu quiser falar com DeusTenho que me aventurarTenho que subir aos céusSem cordas pra segurarTenho que dizer adeusDar as costas, caminharDecidido, pela estradaQue ao findar vai dar em nadaNada, nada, nada, nadaDo que eu pensava encontrar.

Penso que essa música em si já me reconecta com o divino. O divino que há em mim.Viver é uma divindade constante. Um milagre.

Para mim é muito importante fazer uma pausa diaria, escutar o que meu coração me diz...

Honrar o fato de estar viva. Agradecer.

Deus é, pra mim, essa voz que fala comigo sem deixar de ser eu. 

E para você? O que é Deus? E como faz para com ele conversar?

Para terminar o post de hoje, deixo-lhes uma das minhas frases prediletas:

 "Santo é o espírito capaz de operar milagres sobre si mesmo" - Viviane Mosé.
Um bom domingo, e que façamos de todos os dias dias de falar com Deus ;).
Flavia B.

sábado, 7 de julho de 2012

Chaminé nossa de cada dia...


Sejam todos muito bem-vindos.

Estou hoje, com esse blog, realizando um sonho meu que há muito encontrava-se empoeirado na gaveta.

Desejo aqui falar, sim, sobre os livros. Mas, mais que isso, desejo falar sobre a alma, e como ela se expressa por meio da palavra. Ao menos para mim, a linguagem é uma divindade que mudou minha vida em muitos sentidos, alguns ainda nem descobertos.

Desejo falar de magia. Do milagre da vida. De poesia.

Posso dizer, assim, que este é sim um espaço de adoração e devoção à palavra, porém ainda mais da chaminé que a libera e liberta, sendo a "chaminé" nosso coração, lugar em que a linguagem realmente se transforma, adquire significado e poder para seguir em frente e tocar àqueles ansiosos por uma mensagem, simples que seja.

Que possamos aqui fazer a troca daquilo que nos toca, que nossas palavras sejam entrelaçadas, relançadas ao mundo, e acolhidas por quem as procura. Que nossa fala possa ser cura.

Benditas sejam vossas chaminés, caros leitores!
E que este blog ajuda a mante-las em pleno funcionamento. =)
Cá vamos nós!

Grata,

Flavia B.



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