terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Pensando bem: Adoção, porque não?

Tudo bem, eu sou meio louca.
22:38 de uma terça-feira e eu, que tenho 20 anos aqui, pensando em adoção. Mas é um assunto que têm martelado muito na minha cabeça. Os motivos são muitos.
Mas, antes de começar, preciso dizer algumas coisas.
Primeiro, este texto não pretende oferecer dados estatísticos ou provas. Apenas uma reflexão.
Segundo, eu não sou mãe. Sou filha. Sou humano. E vou fazer minhas reflexões com base naquilo que sei, não tanto por conhecimentos teóricos, mas do que sei no mais intimo do meu coração.
Eu tenho observado muito o correr do mundo. Tenho tido a oportunidade de deixar para trás de mim mesma algumas ilusões que carregava, e minhas concepções de mundo vão a se alterar nesse compasso da descoberta, como uma dança da percepção. Cada vez mais me impressiono e tenho comigo a impressão de que a vida transcende mesmo a tudo o que imagino.
Eu nunca pensei que meus pensamentos fossem se voltar ao tema da adoção. Não sou adotada. Mesmo a maternidade nunca foi um tema que me chamou a atenção. Dizia eu, aliás, que meu intento de ser mãe era zero, pois não via motivos para tanto e achava ainda uma baita crueldade colocar mais um ser humano aqui nesse lugar do jeito que ele está, só pelo meu bel-prazer. Esse pensamento não mudou.
Mas é claro que eu percebia a singularidade da minha forma de pensar. A grande maioria das mulheres que conheço gostaria de ter (ou tem!) pelo menos um filho. Notar essa singularidade foi algo que me intrigou. Comecei a querer realmente entender o porquê dessa vontade generalizada de ter filhos. E fui em busca de respostas. A resposta que encontrei e que me levou a pensar em adoção é que a maior parte das mulheres querem isso mesmo: ter filhos. Isto é, além de criar, gestar e parir. Isso parece ser bem importante (repito: para a maioria), pelas mais diversas causas, dentre as quais eu citaria a de manter tradição e a genética.
Isso significa que:
1- Refletimos (se é que refletimos!) muito pouco sobre o que já está costurado no tecido social, e nisto inclui-se a maternidade e todo o seu sentido. As ideias, o certo e o errado, o normal e o diferente, o bom e o ruim - está tudo tão pré-estabelecido que somos levados em direção a correnteza do senso-comum, sem criar nossas próprias noções e possibilidades de vida. Isso faz de nós seres muito carregados de... pré-conceitos. Tornamo-nos então repetitivos e cíclicos. E, claro, muito carentes de autenticidade e até de identidade.
2- O mito da genética como determinante ainda envolve o sub-consciente de muita gente. A falta de conhecimento é a origem do medo diante do poder dos genes sobre as nossas características, inclusive comportamentais (ou talvez principalmente comportamentais). Somos levados, pela ignorância, a acreditar que a genética determina comportamento, quando na realidade ela exerce uma influência jamais separada do meio social em que (sobre) vive o organismo.

A ideia de que adotar um ser humano equivale-se a correr o risco de comprar problemas não passa, portanto, de uma ilusão. Ter um filho, seja ele adotado ou biológico, é sempre um risco que se corre. Temos em mãos apenas expectativas e intenções, e ter um filho seu não lhe garante que esses ideais serão cumpridos. A maioria das vezes o que ocorre é exatamente o contrário. Porque a vida é espontânea, não conta com planos. Ela acontece e de maneiras muito diferentes para cada um. Aí vem o desafio que é aceitar a individualidade do outro, daquele que veio de você (seja você pai ou mãe. E ao dizer "veio de você", não falo apenas de gestação e parto, falo também de criação e de valores).
E, por isso, ao meu ver, a importância de se saber capaz de um amor incondicional. Se eu digo que não serei mãe é justamente por duvidar dessa minha capacidade de amar sem expectativas. De amar um amor que é pura doação.

Pensando nisso, então, eu questiono:

Ser mãe, então, adquire que significado? Atinge quais instâncias? Abrange e transcende a que?
Trata-se, principalmente, do processo de gestação e parto? Não.
Não é principalmente isso, todos sabemos. E não precisamos continuar agindo como se fosse.
Gestar e parir não são sequer necessários para que alguém seja mãe ou, o que é ainda mais importante, maternal.
Muitas mães passaram por todo o processo biológico mas não têm essa característica psicológica e emocional que constitui a maternalidade.
Ser maternal é para poucos, pois trata-se de entrega, de doação. Do amor incondicional mencionado.

Mesmo uma pessoa que escolhe não ter filhos pode ter esta qualidade. E ela é o principal. Ela é o que basta para fazer de alguém mãe ou pai (sim, porque pais também podem ser maternais).

Num mundo tão realmente cheio de problemas e de crianças esperando por uma mão que lhes seja estendida e um colo que as acolha, por que não repensarmos nosso conceito já tão envelhecido e desgastado de maternidade e de família?
Desfaçamo-nos de nossas ilusões e expectativas. "Viver é melhor que sonhar" (Belchior).

"Todo filho precisa ser adotado". "Filho não sai, entra aos pouquinhos". - Soraya Pereira.


*Ter (gestar, parir) filhos eu não desejo mesmo. Mas adotar, se daqui uns anos eu me sentir capaz de tamanha doação que é criar filhos, eu pretendo.






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